O grande dia

O grande dia

Rio, 24 de fevereiro de 2020. Dandara está se preparando para desfilar no sambódromo pela primeira vez, Tainá está ajudando a organizar o evento e Ronildo está ansioso por uma última noite desenfreada com um bate-bola. Seus planos são abalados por um incidente cujas repercussões aumentam a cada hora que passa. Em meio a esse tumulto, dois dos personagens encontram o amor de forma inesperada.

Em breve.

“Caraca! Que noite! Sentado no chão, as costas contra uma caixa de madeira, ao lado do seu priminho Chico, a cabeça ainda virando e com uma fome que rasgava seu estômago, Ronildo tentava colocar um pouco de ordem em suas lembranças. Há anos que Chico e ele queriam integrar o bate-bola da Sereia. Provavelmente por influência do tio Ataulfo. “O bate-bola é a verdadeira tradição carnavalesca”, costumava dizer. “As escolas de samba viraram espetáculos para turistas e muitos blocos também. Mas o bate-bola é coisa nossa. Vem do povão, existe só por e para ele.”

Não foi fácil juntar o dinheiro das fantasias. O dono da oficina mecânica, onde Ronildo fora empregado durante dois anos, não tinha mais nada para lhe oferecer. “É a crise para todos, companheiro”, explicara. “Já sei que você trabalha bem, e teria gostado de poder mantê-lo na empresa, mas, se não tenho mais clientes, não preciso nem do melhor lanterneiro do mundo, mermão!” Ronildo e Chico conseguiram uns bicos aqui e ali. Trouxeram caixas da Central de Abastecimentos, em Irajá, sacos de cimento para obras do bairro, fizeram algumas entregas para negociantes, venderam bolos na rua.

Mesmo assim, o dinheiro estava longe de bastar. Parte dele estava destinado a contribuir para as despesas das famílias; restava pouco. Ronildo tentou pedir emprestado o que faltava para várias pessoas, sem sucesso. A família não tinha como ajudar; já tinha que arcar com as despesas para tratar da saúde do avô. Os amigos e os vizinhos não tinham condição — pelo menos, foi o que disseram. Foi só quando ficou bem claro que não tinha mais solução que Ronildo resolveu visitar o Marlon Brando, sem dizer a ninguém.”